Eu sei, vocês estavam morrendo de saudades do blog e principalmente dos nossos TOP5/7, e com razão, afinal, são divertidos de fazer.
Hoje, trouxemos cinco poemas da Orides Fontela (1940-1998), uma poetisa aqui do estado de São Paulo que, infelizmente, é mais uma das grandes artistas mulheres que são oprimidas pelo sistema machista e tem seu trabalho ignorado, mas possui uma produção impressionante e riquíssima. Seu trabalho sempre foi aclamado pelo grande-inigualável-gostosão Antônio Cândido.
Os poemas estão no livro
"Poesia Completa", da editora Hedra, e possuem afrescos diversos e profundidas tremendas. Aproveitem ai e que é babado.
Tempo
O fluxo obriga
qualquer flor
a abrigar-se em si mesma
sem memória.
O fluxo onda ser
impede qualquer flor
de reinventar-se em
flor repetida.
a flor destrona
qualquer flor
de seu agora vivo
e a torna em sono.
O universofluxo
repele
entre as flores estes
cantosloresvidas.
- mas eis que a palavra
cantoflorvivência
re-nascendo perpétua
obriga o fluxo
cavalga o fluxo num milagre
da vida.
Meada
Uma trança desfaz-se:
calmamente as mãos
soltam os fios
inutilizam
o amorosamente tramado.
Uma trança desfaz-se:
as mãos buscam o fundo
da rede inesgotável
anulando a trama
e a forma.
Uma trança desfaz-se:
as mãos buscam o fim
do tempo e o início
de si mesmas, antes
da trama criada.
As mãos
destroem, procurando-se
antes da trana e da memória.
A Rosa (atualmente)
A rosa reta
não a rosa
rosa
rosa de raiva
não a rara
rosa
rosa de plástico
não a plástica
rosa.
Poema
Saber de cor o silêncio
diamante e/ou espelho
o silêncio além
do branco.
Saber seu peso
seu signo
- habitar sua estrela
impiedosa.
Saber seu centro: vazio
esplendor além
da vida
e vida além
da memória.
Saber de cor o silêncio
- e profaná-lo, dissolvê-lo
em palavras.
Cisne
Humanizar o cisne
é violentá-lo. Mas
também quem nos dirá
o arisco esplendor
- a presença do cisne?
Como dizê-lo? Densa
a palavra fere
o branco
expulsa a presença e - humana -
é esplendor memória
e sangue.
E
resta
não o cisne: a
palavra
- a palavra mesmo
cisne.
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